A indústria de carne bovina dos Estados Unidos pode não ver o número de vacas reprodutoras retornar aos níveis de 2023 pelos próximos três ou quatro anos, já que os altos preços dos bovinos jovens incentivam os criadores a vender, em vez de reter as fêmeas para a recomposição do rebanho.
Essa é a visão do CoBank, banco agrícola dos EUA, em um relatório divulgado em agosto, apontando o impacto significativo que as decisões tomadas por pequenos produtores de carne bovina dos EUA (com 50 cabeças ou menos) têm no desempenho do rebanho nacional.
Segundo o relatório, publicado pelo site Beef Central, o fornecimento de carne bovina dos Estados Unidos depende muito de uma grande rede de pequenos produtores para criar bezerros.
“Cerca de 25% do estoque de vacas de corte dos EUA pode ser encontrado em operações com 50 ou menos cabeças. Como essas operações geralmente não dependem desses animais como única fonte de renda, as decisões econômicas diferem de operações maiores”, diz o relatório.
Quando eventos inesperados, como seca generalizada, danificam as condições das pastagens, a produção de forragem e as taxas de retenção de vacas de corte sofrem. A seca é uma das principais razões pelas quais o número de vacas dos EUA produzindo bezerros diminuiu nos últimos anos.
Embora o movimento não seja incomum, a duração e a profundidade do declínio no número de vacas de corte nos EUA foram surpreendentes, e até preocupantes, de acordo com o CoBank.
Os EUA estão atualmente em seu quinto ano de retração no número de vacas de corte, caindo 2,5% ano a ano para 28,2 milhões de cabeças. Esses estoques são os mais baixos desde 1961, com base em dados do USDA.
Alguns dos principais analistas da indústria não esperam que o setor de bovinos de corte retorne aos níveis de 2023 por mais três ou quatro anos. Parte deles, inclusive, tem sugerido que a contração continuará por mais dois anos além desse prazo.
Preços em alta
Se os preços de novilhos e bezerros nos EUA permanecerem recordes, pode ser que só em 2026 ou 2027 as taxas de retenção de novilhas e a população de vacas de corte voltem a subir, disse o CoBank.
“Mesmo quando os fazendeiros começarem a manter mais novilhas, a reconstrução do rebanho bovino dos EUA será um processo lento. Por exemplo, será em 2026 que uma bezerra nascida em 2024 terá seu primeiro bezerro e se juntará à população de vacas de corte. No entanto, é mais provável que 2025 – ou depois – seja o primeiro ano de retenção”, diz o relatório.
Menos gado entrando em plantas de processamento dos EUA levará à continuidade de preços altos de carne bovina e gado para proprietários de vacas-bezerros e confinamentos, e margens mais apertadas para os frigoríficos. De acordo com o Sterling Beef Profit Tracker, os processadores de carne bovina dos EUA estavam perdendo perto de US$ 100 por cabeça em julho de 2024.
Brasil e Austrália lideram exportações
Diante deste cenário, o Brasil e a Austrália, outros tradicionais exportadores mundiais de carne bovina, têm elevado seus embarques aos EUA – aproveitando a redução da oferta interna da proteína norte-americana.
Além disso, os países fornecedores do produto também aproveitam para ganhar terreno em mercados internacionais que tradicionalmente são atendidos pelos exportadores norte-americanos.