O cenário global para as exportações de carne suína vem sofrendo alterações em razão das mudanças de consumo na China (o segundo maior importador da proteína) e das tensões entre o país e a União Europeia, levando as nações produtoras a buscarem a diversificação de suas vendas externas.
De acordo com um relatório recente da RaboResearch, o mercado chinês está gradualmente se afastando da carne suína – tradicionalmente a escolha dominante – em direção a aves, carne bovina e frutos do mar, que são favorecidos por seus benefícios percebidos à saúde.
O relatório sugere que os exportadores precisam considerar mudanças nos tipos de produtos oferecidos para atender às necessidades dos consumidores na China – que é o maior consumidor mundial de carne suína.
“Assim, os produtores são aconselhados a se concentrar em uma abordagem centrada no consumidor em vez de fornecer produtos universais em grandes volumes ao abastecer o mercado chinês”, diz o documento.
Oportunidades para exportações de carne suína ao país, contudo, seguem disponíveis, com números da RaboResearch indicando que o consumo per capita de carne na China dobrou nos últimos 30 anos, para 72 kg em 2023.
Tensões comerciais
O aumento das tensões comerciais entre China e União Europeia também vem contribuindo para um potencial redesenho do mapa das exportações do produto. Em junho, o país asiático anunciou uma investigação antidumping sobre as importações de carne suína da UE. O processo, que deve durar um ano, foi iniciado depois que o bloco impôs taxas antissubsídios a veículos elétricos fabricados na China.
Nesta semana, um novo capítulo da disputa foi anunciado por Pequim: uma investigação sobre os subsídios da UE aos produtos lácteos que exporta ao país.
Para Chenjun Pan, analista sênior de proteína animal do Rabobank, uma suspensão das exportações da UE ou a imposição de tarifas altas pela China podem significar que os fluxos globais de comércio de carne suína serão redirecionados – à medida que a China encontra novas origens e as exportações da UE fluem para outras regiões.
“Enquanto isso, outros países exportadores podem ver seus parceiros comerciais tradicionais mudarem para produtos de carne suína da UE mais baratos”, afirma.
Novos mercados
Juntas, as tensões globais e a mudança de comportamento dos consumidores chineses já vêm estimulando movimentações dos principais produtores e exportadores da carne suína, que buscam diversificar destinos.
No Brasil, por exemplo (atualmente o quarto maior exportador de carne suína), os embarques para a China registraram queda de 40,3% no primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. O setor compensou o recuo da demanda diversificando as vendas para Filipinas, Coreia do Sul, Japão, Chile e México.
Outros países, como a Rússia, buscam ganhar mercado na China diante de uma possível redução do espaço da UE. Os produtores russos querem assumir 10% do mercado de importação de carne suína da China nos próximos anos, partindo do zero.
A Rússia não exportou carne suína para a China até fevereiro, quando Pequim autorizou três produtores russos a vender carne suína no mercado de importação chinês de US$ 3,5 bilhões, que é dominado por produtores da UE, com uma participação de 51%.
Ainda como parte desse cenário, de acordo com Pan, do RaboBank, alguns governos têm investido em apoiar melhorias na produção nacional para aumentar a autossuficiência e reduzir a dependência de importações.