Principal destino das exportações brasileiras de carne bovina, a China sinalizou que demandará a rastreabilidade de ponta a ponta da cadeia, isto é, desde o nascimento do animal, nos próximos anos.
A informação foi dada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), enquanto o país se prepara para a entrada em vigor da lei antidesmatamento da União Europeia – que deve ser adiada para o próximo ano.
A exigência já está presente nos protocolos comerciais assinados entre os Brasil e China, mas nunca foi efetivamente cobrada pelos importadores chineses. Na última visita técnica ao Brasil, contudo, o país asiático destacou que pretende fazê-lo.
Segundo a coordenadora de rastreabilidade da Abiec, Danielle Schneider, essas mudanças devem ocorrer ao longo dos próximos dois anos, com o estabelecimento de protocolos próprios de rastreabilidade.
“Diferentemente da Europa, a China não está cobrando informação referente a desmatamento, somente rastreabilidade. Mas, ao fazer isso, sabemos que o próximo passo é entrar na mesma linha”, disse Schneider em evento em Cuiabá, reportado pelo Globo Rural.
De acordo com o gerente de projetos da ONG chinesa Global Enviromental Institute, Peng Ren, os dois países iniciarão as discussões para criar soluções de rastreabilidade a partir do próximo mês, com a perspectiva de iniciar os primeiros embarques de carne 100% rastreada já a partir do ano que vem. “Estamos no começo dessa negociação”, afirmou o executivo.
União Europeia
Na União Europeia, o Parlamento Europeu deve votar na primeira quinzena de novembro a proposta de adiamento, para 2025, da nova legislação antidesmatamento do bloco, batizada de EUDR – prevista para entrar em vigor, inicialmente, em 30 dezembro.
As novas regras preveem barreiras contra a importação de produtos agropecuários que tenham sido produzidos em áreas que foram desmatadas depois de 2020. E terão impactos sobre o comércio de derivados de madeira, cacau, café, soja, óleo de palma, carne bovina e borracha.
Para garantir a adequação à lei, a indústria brasileira de carne bovina deve apresentar à UE um projeto-piloto de rastreabilidade e monitoramento de sua cadeia de produção. O objetivo é garantir a conformidade dos animais que já estão em fazendas habilitadas a exportar à região, atendendo às novas exigências ambientais do bloco.
Hoje, o Brasil já segue um protocolo de rastreabilidade específico para embarcar carne ao bloco europeu. O Sisbov determina a identificação individual e o monitoramento do bovino pelo menos 90 dias antes de seu abate, e que seja mantido na propriedade habilitada à exportação nos 40 dias que precedem o envio ao frigorífico. Já a EUDR exige rastreabilidade desde o nascimento do animal.
A proposta da Abiec é que, a partir das Guias de Trânsito Animal (GTA), os animais com até 13 meses que foram adquiridos para engorda por propriedades habilitadas sejam considerados aptos para ter a carne exportada. Isso porque, em geral, bovinos até essa idade passam por apenas uma fazenda antes de irem para a engorda.
“Não está resolvido o problema, não é em 100% das propriedades que conseguiríamos fazer isso, mas com o auxílio das certificadoras que já estão dentro do processo, seria possível voltar uma casa para trás com a GTA, para saber se a propriedade anterior onde o animal estava também está conforme o requisito de desmatamento”, disse Schneider, da Abiec.
De acordo com a associação, o Brasil tem hoje 1.200 propriedades habilitadas a vender gado para fornecimento de carne para a UE, com um estoque total de 6 milhões de animais.
Cerca de 5% dessas propriedades estariam inaptas a atender à nova lei, mostram dados de levantamento da Serasa Experian. A avaliação foi feita considerando o aspecto territorial, ou seja, se houve ou não desmatamento após dezembro de 2020. A rastreabilidade não foi considerada.