Por Garra em 06/01/2025 em Brasil e Mundo

Após regras da UE, indústria de carne brasileira prepara adequação à rastreabilidade exigida pela China 

Principal destino das exportações brasileiras de carne bovina, a China sinalizou que demandará a rastreabilidade de ponta a ponta da cadeia, isto é, desde o nascimento do animal, nos próximos anos. 

A informação foi dada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), enquanto o país se prepara para a entrada em vigor da lei antidesmatamento da União Europeia – que deve ser adiada para o próximo ano. 

A exigência já está presente nos protocolos comerciais assinados entre os Brasil e China, mas nunca foi efetivamente cobrada pelos importadores chineses. Na última visita técnica ao Brasil, contudo, o país asiático destacou que pretende fazê-lo. 

Segundo a coordenadora de rastreabilidade da Abiec, Danielle Schneider,  essas mudanças devem ocorrer ao longo dos próximos dois anos, com o estabelecimento de protocolos próprios de rastreabilidade. 

“Diferentemente da Europa, a China não está cobrando informação referente a desmatamento, somente rastreabilidade. Mas, ao fazer isso, sabemos que o próximo passo é entrar na mesma linha”, disse Schneider em evento em Cuiabá, reportado pelo Globo Rural.

De acordo com o gerente de projetos da ONG chinesa Global Enviromental Institute, Peng Ren, os dois países iniciarão as discussões para criar soluções de rastreabilidade a partir do próximo mês, com a perspectiva de iniciar os primeiros embarques de carne 100% rastreada já a partir do ano que vem. “Estamos no começo dessa negociação”, afirmou o executivo.

União Europeia

Na União Europeia, o Parlamento Europeu deve votar na primeira quinzena de novembro a proposta de adiamento, para 2025, da nova legislação antidesmatamento do bloco, batizada de EUDR – prevista para entrar em vigor, inicialmente, em 30 dezembro.

As novas regras preveem barreiras contra a importação de produtos agropecuários que tenham sido produzidos em áreas que foram desmatadas depois de 2020. E terão impactos sobre o comércio de derivados de madeira, cacau, café, soja, óleo de palma, carne bovina e borracha.

Para garantir a adequação à lei, a indústria brasileira de carne bovina deve apresentar à UE um projeto-piloto de rastreabilidade e monitoramento de sua cadeia de produção. O objetivo é garantir a conformidade dos animais que já estão em fazendas habilitadas a exportar à região, atendendo às novas exigências ambientais do bloco. 

Hoje, o Brasil já segue um protocolo de rastreabilidade específico para embarcar carne ao bloco europeu. O Sisbov determina a identificação individual e o monitoramento do bovino pelo menos 90 dias antes de seu abate, e que seja mantido na propriedade habilitada à exportação nos 40 dias que precedem o envio ao frigorífico. Já a EUDR exige rastreabilidade desde o nascimento do animal.

A proposta da Abiec é que, a partir das Guias de Trânsito Animal (GTA), os animais com até 13 meses que foram adquiridos para engorda por propriedades habilitadas sejam considerados aptos para ter a carne exportada. Isso porque, em geral, bovinos até essa idade passam por apenas uma fazenda antes de irem para a engorda.

“Não está resolvido o problema, não é em 100% das propriedades que conseguiríamos fazer isso, mas com o auxílio das certificadoras que já estão dentro do processo, seria possível voltar uma casa para trás com a GTA, para saber se a propriedade anterior onde o animal estava também está conforme o requisito de desmatamento”, disse Schneider, da Abiec.

De acordo com a associação, o Brasil tem hoje 1.200 propriedades habilitadas a vender gado para fornecimento de carne para a UE, com um estoque total de 6 milhões de animais. 

Cerca de 5% dessas propriedades estariam inaptas a atender à nova lei, mostram dados de levantamento da Serasa Experian. A avaliação foi feita considerando o aspecto territorial, ou seja, se houve ou não desmatamento após dezembro de 2020. A rastreabilidade não foi considerada.

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